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O caso aconteceu na manhã do último sábado, 2, na Comunidade Axixá que cuida há bastante tempo de uma panela gigante que, pela história contada geração após geração na localidade, entende-se que tenha sido usada para alimentar escravos que naquela região trabalharam.

Sustentam que não a encontraram enterrada, a trouxeram do local onde foi vista, colocando-a em exposição no terreiro de uma das residências do povoado e, desde então, passaram a tê-la como objeto estimado, patrimônio da comunidade e de valor até religioso, uma vez que Axixá também pratica a umbanda, culto afrodescendente bastante difundido em Codó.

Quando nossa reportagem chegou a local encontramos apenas o morador Francisco Alves da Silva que, sozinho, uma vez que a visita do Instituto Histórico e Geográfico do Codó, segundo os residentes, não fora de nenhuma maneira avisada, já se preparava para defender a panela.

Dizia que ela poderia ser levada para a cidade, mas só depois que todas as 93 famílias fossem ouvidas e com a retirada concordassem.

“Tem que ter reunião pra poder levar essa panela daqui, nós num pode pegar essa panela botar em cima de carro, sem todo mundo não combina…OU SEJA, TODO MUNDO TEM QUE SER OUVIDO? Todo mundo tem que ser ouvido, vamos marcar uma reunião pra todo mundo falar”, respondeu em entrevista, inclusive, à TV Mirante

Não foi o que aconteceu. Como a comunidade não sabia da intenção do IHGC, cada um estava para sua roça, viagem ou qualquer outra ocupação típica da zona rural.

PM PRA INTIMIDAR


Diante desta situação, um grupo minúsculo formou-se, mas com a presença de dois policiais militares, levados num carro oficial da Universidade Federal do Maranhão – UFMA, protestaram apenas com palavras que demonstravam sua indignação contra a forma como a retirada da panela estava se concretizando.

Enquanto um grupo ouvia a reclamação dos poucos moradores que se aglomeraram, outro cuidava de colocar a panela em cima de um caminhão. A notícia espalhou-se por Axixá, mas quando mais moradores chegaram já era tarde demais. O caminhão, com a panela, já havia saído.

Sandra Bonfim, disse que o Instituto agiu de forma errada porque deveria ter ouvido todos os moradores, também errou por levar a PM para, na opinião dos lavradores, intimidá-los. Também destacou que a panela era um símbolo da comunidade.

“Com certeza porque isso aí, como se diz, era um símbolo da comunidade que tava aí há muito tempo, isso daí não podia sair daqui, eles fizeram isso escondido, isso aí foi uma coisa escondida, que ninguém sabia daqui…DE SURPRESA? Foi muito de surpresa (…) trouxeram a polícia pra intimidar como esses outros que estão aqui viram, não pode isso daqui tem que ficar aqui”, disse indignada a lavradora

“TÃO INVADINDO”


Um dos mais antigos moradores de Axixá, o lavrador Raimundo Nonato da Silva, considerou o ato uma invasão da comunidade, porque faltou permissão de todos.

“Eu sou contra porque é da comunidade e não pode pegar sem autorização, não..AGORA JÁ TÃO LEVANDO? É, tão levando, mas tão invadindo”, disse com certa raiva em sua expressão.

Já o jovem Raimundo Nonato da Silva Fialho fez um sábio questionamento à imprensa presente – perguntou se ele poderia chegar em qualquer departamento onde trabalhava o repórter para pegar o que quisesse sem permissão.

“Eu sou contra porque o patrimônio da terra é isso aqui moço (…) Cê acha que eu posso chegar daqui da minha comunidade entrar lá no departamento que vocês trabalha chegar e levar uma coisa lá? Não tem como”, questionou Fialho

VALOR IMATERIAL DESRESPEITADO

Afora os poucos moradores que conseguiram presenciar a retirada da panela, somente o diretor do departamento de Igualdade Racial, da Secretaria municipal de mesmo nome, Francialdo Oliveira, defendeu o bem que os moradores consideram deles tentando convencer os integrantes do IHGC, sobretudo o presidente Ribamar Amorim e o advogado confrade Francisco Machado, de que era necessário ouvir os cidadãos de Axixá.

Francialdo, ignorado em seus apelos, chegou a se emocionar ao falar que a panela tinha muito mais que valor material, tinha uma ligação afro religiosa com a comunidade.

“A gente entende que essa panela, que esse instrumento que estava aqui tem um….VALOR RELIGIOSO? Muito pra comunidade, quem é de terreiro, quem é de religião sabe a importância de um  fundamento como essa panela tinha pra comunidade e pro terreiro, então assim levaram um pedaço da comunidade’, disse forçando-se a falar engolindo o choro e contendo as lágrimas

O diretor do departamento também criticou a forma como o Instituto realizou a retirada da panela com a presença da PM e desrespeitando a vontade dos moradores.

“Não houve nenhum conversa, junto com os  policiais, pegaram a panela botaram no carro e foram embora, e a comunidade fica como? Sem saber de nada…ALGUMA MEDIDA JURIDICAMENTE? Iremos conversar com a comunidade, com o presidente pra gente ver o que a gente pode fazer pra recuperar porque a panela não é minha, nem é sua, a panela é da comunidade, de todos nós”, disse

COMO PENSA O PRESIDENTE

Nós ouvimos o presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Codó. Ribamar Amorim disse que fez a retirada, da forma como aqui descrita, porque o artefato pertence à União e o Instituto Histórico representa o Governo Federal no município, além disso um ex-presidente da comunidade teria doado a panela ao IHGC.

No momento, os membros não apresentaram o documento de doação, apenas disseram que ela consta de uma ata do Instituto (pressupõe-se que houve uma reunião e o então ex-presidente teria prometido a doação da panela, o que teria ficado anotado nesta ata).

Os moradores questionaram a suposta doação alegada dizendo que atualmente o presidente da associação é outro e os moradores não sabiam da promessa do anterior.

Abaixo a transcrição do inteiro teor da fala de Ribamar Amorim sobre o episódio lamentado pela comunidade de Axixá, que continua chocada:

“Acélio, o que a gente ver o seguinte: todo artefato que é encontrado no solo brasileiro, pelo menos o brasileiro, você conhece a lei, então você sabe que pertence à quem? À União, a União, aqui no município, é representada única e exclusivamente pelo Instituto Histórico e Geográfico do Codó, dado a sua finalidade de resgatar a história, buscar os artefatos, então deveria já está com a gente”

“Foi doado pelo presidente da instituição da Associação (ex-presidente), agora, de repente, depois disso apareceu num terreiro que se intitulou dono do artefato e este artefato não pertence nem a comunidade, realmente. Este artefato estava numa fazenda de um juiz de Caxias e veio de lá mal acondicionado, tanto é que ela quebrou porque ela veio arrastada pelo chão, piçarra, estrada de piçarra e de pedra, trincou”

“Com isso nós estamos querendo o quê? Apenas resgatar a história, até reativar a comunidade que tá tão apagada porque não tem nada. Então a gente vai passar a dar o quê? Uma ênfase maior  pra comunidade diante um artefato que estava aqui na comunidade, isso não tira o mérito, nem também a peça de ser da comunidade, a gente sabe disso, nós temos alguns documentos do presidente anterior que nos doou o artefato (…) continua sendo um artefato que lembra a comunidade, então vai ficar cedido, uma seção de uso para apresentação do artefato sem eu devido lugar”, concluiu Amorim

15 comentários sobre “Com presença da PM Instituto Histórico retira panela gigante contra vontade de moradores de Axixá”

  1. A comunidade Axixá tem todos os pré requisitos para ser um sítio Arqueológico.
    Em aula prática, eu, bióloga e um professor geógrafo conduzimos um grupo de alunos em uma trilha, a intenção era a Educação Ambiental, e nos deparamos com muitos sinais, objetos que retratam o período da escravidão.( não vou citar aqui pois é capaz desse povo despreparado ir atrás, confiscar como fizeram com a panela).
    Os sítios arqueológicos são os lugares onde as peças, comumente chamadas de artefatos, são encontradas. O momento onde o presente e o passado se encontram.

    Os artefatos são recolhidos do sítio arqueológico, limpos, catalogados, analisados e guardados em locais próprios. O objetivo é que estes estudos tragam à tona informações suficientes que permitam reconstituir a história daqueles que ali viveram. Para tal faz-se necessário fazer o trabalho de Arqueologia (Levantamento, Prospecção, Resgate e Monitoramento).
    Agora eu pergunto, quem nessa equipe estava preparada para fazer essa retirada dentro da lei.
    não ví ninguem qualificado alí para tal.

    Quem fez um estudo prévio sobre a importância histórica desse artefato?
    esse representante do IHGC ou essa equipe que o acompanha? não vejo nenhum para isso.
    O que diz a Lei?

    Os sítios arqueológicos são lugares tão importantes que foram criadas leis para que fossem protegidos, preservando-os do desaparecimento.

    A Constituição Federal em seu artigo 216, a Lei de arqueologia 3.924 de 1961 que dispõe dos monumentos arqueológicos e pré-históricos, a Portaria 230 de 2002 do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), dentre outras, cuidam para que os artefatos sejam guardados em Instituições como o IAB e assim possam ser preservados para as gerações futuras.
    Quem alí representava o IPHAN, MESMO QUE POR PROCURAÇÃO? falo de documento.

    ahhh, mas ´axixá não é um sitio arqueológico. Sim não é, mas de lá foi retirado uma peça arquelógica de forma irregular.
    Falta de respeito, nessa cidade todos os atos como esses são autorizados.

    Agora o visitante para entrar naquele museu é vigiado e monitorado por uns funcionários que tiram toda a privacidade da pessoa que alí está e pior, não sabem responde um único questionamento que se faça.

  2. Parabéns………….., simplesmente acabou com dezenas de anos de sofridão daquela gente que olhavam e lembravam dos seus ancestrais. . …. sabe que é praga de escravo?

  3. Esse IHGC de Codó é ………….. “……………..”, ninguém tem acesso à nada ………………………………………………..

  4. Que falta de respeito com a comunidade ………. Embora o artefato pertença a União, ninguém teria o direito de ir ao Axixá com a Polícia para levar a panela de lá, já que ela estava em posse da comunidade. Agora, estou é PM participar disso, já que não tinha nenhum mandado da justiça.
    Espero que esse ERRO e FALTA DE RESPEITA esse corrigida.

  5. o Patrimônio (Panela)é da População do Axixá Mais os Codoenses vão Ficar Maravilhado com esse Peça Exposta no Instituto Histórico e Geográfico do Codó para que Possamos Conhecer e Saber da sua Historia.

  6. Qual a finalidade dessa panela em Axixá? Vai cozinhar o que? Parabéns ao Dr. Ribamar Amorim. Presidente da OAB, pela atitude de verdadeiramente preservar a história da penela,cidade, região, uma coisa é certa, essa panela não vai fazer falta ao povo de Axixá! no Instituto, vai ser um atrativo à mais.

  7. A ONDE FICA ESSE TAL IHGC? pra gente visitar a merda da panela, objetivo da discórdia. da pra cozinhar nela? PELO QUE VI PARECE QUE AO MEXER NA MESMA AS PESSOAS QUEBRARAM A TAL PANELA. FAZIAM MACUMBA NA PANELA? Coitada da dila quando fizesse um discurso iria ouvir um belo de um panelaço, a do AXIXA. Tem que voltar a panela para o local de origem. estou com a comunidade se precisar ir a brasilia vou junto.

  8. ………… começou errado, primeiro não mostrou o documento de doação que ele diz ter em mãos, levar a policia, ele já imaginava que podia haver problema com os moradores então levou a PM pra intimidar, retirar alguma coisa de local sem a devida autorização, configura …. ou seja …., então meu caro amigo, vc está totalmente errado, entra com uma ação contra ……. que acha que está acima ….

  9. Parabéns ao IHGCodo pelo resgate de mais esta história desse importante município. Essa comunidade deveria era se unir ao IHGCodo e ajudar na construção da verdadeira história do município.

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