A prática educacional é insuficiente se tiver como objetivo somente atingir as metas do IDED (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica). Pois, como sabemos o indicador mede somente algumas disciplinas e outros aspectos importantes, educacionalmente falando, ficam a margem. É pobre pensar que atingir as metas do IDEB pura e simplesmente é o caminho correto para a construção de uma educação inclusiva, democrática e plural que supra as complexas redes e necessidades de aprendizagens.
O IDEB como indicador possui um valor relativo, ou seja, é importante conhecer o indicador, mas saber que a melhoria educacional e muito mais atingir as ditas metas. Uma escola pode atingir as metas e ter, por exemplo, uma péssima saúde relacional entre os servidores e alunos.
Na prática, não há uma preocupação com o desenvolvimento cognitivo dos estudantes, porque não se trabalha com eles, mas sobre eles. Os discentes são um meio para se alcançar uma meta final, a elevação do índice. Os papeis estão invertidos e o índice está em primeiro plano.
Quando se sabe que a construção de caminhos para uma efetiva melhoria educacional não deve prescindir da fala dos docentes, estudantes, supervisores e demais profissionais que fazem a educação como agentes elaboradores e executores das políticas/ideias educacionais. Tem-se visto que em muitos momentos a fala dos atores é vista como incômodo, quando deveria ser o contrário.
Pensar a educação e em como chegar a uma oferta de qualidade não pode ser resumido a trilhar passos fixos, receitas simplificadas e imediatismos. A educação como atividades desenvolvidas em contextos diversos e complexos não pode ser analisada fora dessa situação. Ela é muito mais que um cálculo de custo benefício.
Por outro lado, imaginar a educação como sistêmica é também irreal. As escolas se diferenciam umas das outras e mesmo entre seus turnos. Essa diversidade salta aos olhos. Os professores, a gestão, os estudantes e o contexto local são peças-chave dessa diversidade. Então, uma ideia exitosa em uma escola poderá ser desastre em outra. E por que continuamos querendo impor modelos?
Essa premissa é relevante para pensar a condições dos alunos. Várias concepções teóricas, entre elas o Construtivismo Vulgar, têm resumido o aluno a um ser universal; quando muito a um sujeito cultural “frigorificado”. Para cada fase da vida uma maneira de aprender e quando a aluno foge desse padrão diz-se que ele é um problema: “problema da distorção idade série”.
Enquanto isso deixamos de lado ou abordamos parcialmente as questões de gênero, masculinidades, feminilidades, juventude, poder, homofobia, saúde docente, os novos arranjos familiares, o papel das equipes de apoio pedagógico, o uso das tecnologias como instrumento efetivo e dinâmico, os problemas da infraestrutura das unidades, escolas pensadas para um aluno imóvel, a questão salarial, a qualidade do transporte, a oferta insuficiente da alimentação escolar, material didático descontextualizado que o aluno não compreende, ausência de programas de formação continuada, dentre outros.
A qualidade em termos educacionais é mais que subir uma escola de aprendizagem. É pensar a educação diante dos problemas contemporâneos. Para isso temos que nos libertar das certezas construídas e buscar um diálogo mais franco com a realidade “móvel” que cerca nossas práticas. Chega de “idebizar” nossas escolas. Nossos alunos e professores merecem mais.
Por Xico Paiva