Raposa, povoado a 46 kms da sede do município com entrada no Canto do Coxo, tem 97 famílias. A maioria, pelo que presenciamos no local, ganhou cisternas do Governo Federal, mas elas secaram há muito tempo segundo dona Luzinete Costa de Sousa que na oportunidade apelou por um abastecimento de carro-pipa.
Todos afirmam que, mesmo sabendo da realidade, o governo passa com um carro cheio d’água para o povoado vizinho, mas não deixa uma gota em Raposa do Zeca Farias (terra desapropriada pelo Incra para a comunidade).
“Não tá servindo pra nada, não tem água…QUANTO TEMPO? Já tá com uns seis meses, porque já tá terminando, já tá chegando o outro ano (…) Que mande o carro-pipa pelo menos uma vez por semana abastecer o pessoal aqui porque aqui tá precisando demais de água”, disse a aposentada
Hoje apenas um poço (estilo cacimbão), aberto no leito de um brejo seco, é tudo que resta, mas a água tem deixado muita gente doente. Dona Teodora Costa, foi levada às pressas para um hospital de Caxias, onde mora uma parente dela, depois de uma semana de diarreia. Lá o médico que a atendeu diagnosticou o motivo da doença que quase a mata.
“Eu vou morrer… QUE O MÉDICO DISSE QUE ERA, QUAL ERA O PROBLEMA? Disse que era da água, atestou que era da água”, afirmou falando que agora está fervendo antes de deixar na geladeira da casa ou no velho pote cerâmico.
URINANDO SANGUE
Sobre este mesmo assunto, a presidente da Associação de Produtores de Raposa, Francisca Delgado Bayma, afirmou que, sem opção, todos continuam bebendo da água imprópria.
Segundo a presidente, a água já foi reprovada em teste feito pelo setor de bioquímica do Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Codó – SAAE – e por conta delas muitos moradores, inclusive muitas crianças, foram internadas inchando o corpo, dando febre alta e até urinando sangue, como aconteceu com um sobrinho dela.
“Tá muito ruim porque a água aqui não é própria para consumo humano como o SAAE já comprovou isso, que não é própria, mas não temos outra saída, continuamos usando a água que não é própria para o consumo humano”
“Teve várias internamentos no HGM, várias crianças foram internadas em 2012 foi quando o SAAE veio fazer o levantamento aqui junto com o Solon, o bioquímico e o Sebastião Celso então eles vieram aqui por causa da quantidade de gente que tava sendo internada no HGM, principalmente as crianças e eles vieram fazer o análise da água, então o Sebastiao Celso veio aqui e disse que água não era própria, mas não trouxe nada pra gente tá repassando para o INCRA pra ver se conseguia um poço artesiano pra cá”, revelou a presidente
A MALÁRIA DE RAPOSA
A falta de água potável tem uma estreita relação com outro grande problema de Raposa – a Malária. A mata em volta do povoado é densa e segundo um estudo entomológico feito pelo próprio município o mosquito transmissor da doença está se concentrando justamente próximos às únicas fontes de água que restaram aos moradores.
A presidente da Associação guarda um documento, emitido em setembro de 2013, pela Assessoria Municipal de Combate às Endemias que constatou, entre julho e setembro deste ano, 17 casos de Malária.
“A Malária então a gente tá muito preocupada porque sem chover tá do jeito que tá, imagine você quando começar a chover”, questionou a presidente
Em novembro já foram diagnosticados, em Raposa, mais 8 novos casos, além de mais dois que esperam resultado final. Uma criança de apenas 4 meses está internada no Hospital de Doenças Infectocontagiosas – HDIC – em Teresina, por causa de complicações da doença. O filho de 4 anos do lavrador, Francisco Matos, foi mais resistente e se recupera em casa.
“Mas antes em mim no que nele porque uma criança dessa com malária como é que a gente vai fazer? (…) gente adulto a gente sabe como é que recorre, mas uma criança dessa como é que a gente faz?”, questiona-se o pai ainda com muito medo de perder o filho.
PEDIDOS DESESPERADOS
A Fundação Nacional de Saúde está atuando segundo a presidente da associação e dos guardas dela nada tem a reclamar, mas todo dia tem gente exposta ao risco como a lavradora que precisa lavar a roupa da família onde os mosquitos se concentram.
Na opinião dos moradores, se tivesse poço artesiano com rede de abastecimento em casa menos riscos correriam.
“Onde nós vamos tem o mosquito, vamos pra beira do Saco tem o mosquito da dengue, vamos pra banda da cacimba tem os mosquitos da malária, nós não pode consumir a água como é que nós vive”, criticou o lavrador Francisco Matos
Francisca Delgado Bayma complementou.
“O trabalho da SUCAM tá sendo excelente, não tenho nada a reclamar, quando eles chegam aqui fazem o atendimento, tá fazendo o acompanhamento, agora como eles dizem é como se a gente tivesse batendo de frente com a parede, eles fazem o tratamento como devia fazer o tratamento, mas a gente continua indo, os que não tão com Malária, continua indo pro foco, onde é o foco da malária continua lá…PORQUE PRECISA PARA TER ÁGUA….precisa de um poço urgentemente”, disse
Ainda não ouvimos, por conta do fim de semana, os secretários do governo municipal (Graça Ximenes sobre carro-pipa e Márcio Esmero sobre poço artesiano) que podem falar sobre o problema, bem como ao assessor de endemias Francisco Santos Leonardo. O que logo faremos.