“A política é a arte de engolir sapos”, quem não se recorda dessa célebre frase entoada por Leonel Brizola um dos mais importantes políticos brasileiros do século XX, sobre a questão das alianças políticas? É extremamente desconcertante ouvir tal afirmativa em sentido inverso: “a política é a arte e a capacidade de conquistar o povo”. Aqui precisamos desfolhar tal dito na seguinte proporção: a) o processo político deve pautar-se numa plataforma ideológica revolucionária; b) a configuração das alianças táticas e estratégicas pactuadas com as diversas forças e correntes políticas do campo da esquerda tende para a conversão de um mesmo ideal e proximidade.
O que não podemos fazer é transformar a afirmação de Leonel Brizola numa “torre de babel” política; em que predomine a confusão ideológica – naturalização política dos atores sociais e políticos num mesmo e único patamar – e a lógica pervertida e perversa do capital – como instrumento disponível proporcionando sistematicamente a desfiguração do caráter, forma e conteúdo da Política essencial e democrática. O princípio elementar e indispensável que podemos construir diante desse pensamento é rearranjar o conceito político de alianças táticas e estratégicas. É necessário e fundamental o processo de alianças, porém, numa perspectiva de decência e coerência; respeitando-se os compromissos firmados.
Introduzir a frase de Leonel Brizola para desenvolver um raciocínio político tendo como palco algumas movimentações paroquiais; entendo ser necessário, pois, a partir dela passo a desenhar com pinceladas precisas redecorando o verniz envelhecido e manchado da conjuntura política local.
Codó é um município estratégico na Agenda do governo estadual, não pelo espectro social, econômico e/ou cultural, mas, tão-somente pelo caráter político; é o 5º Colégio Eleitoral. Todos nós sabemos que os diversos partidos e forças políticas existentes são subordinados à velha e ultrapassada Dinastia Sarney – exceção ao Psol, PCdoB e PSTU atualmente -; ou seja, a total e completa entrega, subordinação e subserviência desses grupelhos no requisito ideológico.
Contudo, é de suma importância que a sociedade civil entenda, definitivamente, a necessária e impostergável ruptura com essa forma atrasada de se fazer política.
O povo se constitui na elementar instrumentalização radical para estabelecer esse processo de transformação. A partir dessa nova conduta o conceito político se inova e se renova na perspectiva democrática e revolucionária; colocando novos desafios e novos temas direcionando o caminho mais sólido para a reforma substancial das estruturas conservadoras hipertrofiadas historicamente. É fundamental repensar estruturalmente o conceito de desenvolvimento interno que se tem projetado nas falas e nos discursos da ordem estabelecida em nível local. O cenário a ser edificado tem como ponta de lança, a reeducação do homem (consciência política) no sentido de aprofundar suas práticas sociais, isto é, torna-se indispensável que o homem desempenhe um papel histórico de tal modo que suas ações repercutam positivamente. O nó a ser desembaraçado é exatamente o corte epistemológico em relação ao fator determinante que expressa concretamente a oposição entre os interesses de classes. Quando a maioria da massa oprimida e desassistida compreender esse ponto central da luta entre as classes sociais antagônicas aí, sim, a classe trabalhadora induzirá uma derrota fragorosa à burguesia concentradora de capital. Enquanto permanecer o atual estado de letargia social e o conseqüente distanciamento da classe trabalhadora do processo político a lógica do capital continuará a incitar a base social de modo tal que, a própria classe trabalhadora deixará ser seduzida pelo processo opressor burguês atinando a perspectiva contrária aos interesses da classe trabalhadora.
E é esse mecanismo que subsidia a burguesia no controle da política e as políticas sociais degenerativas à classe trabalhadora. Urge, por conseguinte, que a classe trabalhadora reconheça seu erro político e reavalie sua prática que tem sido a de alimentar e fortalecer sistematicamente a burguesia nos cargos diretivos institucionais como, por exemplo, o Legislativo (municipal, estadual e federal) bem como o Executivo (municipal, estadual e federal).
Codó já possui espaço suficiente para o surgimento de uma alternativa política equilibrada, radical e sem laços com a burguesia miserável que cultua de forma estarrecedora a pilhagem.
O que está faltando para que se abra um processo de renovação na perspectiva transformadora em nossa cidade? Quem são os novos atores sociais e políticos dispostos a colocarem sua cabeça na guilhotina para enfrentar a força do poder político e econômico em nossa cidade? A tarefa de ser um embrião político com características e um DNA fora dos padrões tradicionais certamente implicará numa certeza: a de que a investida burguesa será muito forte para impedir seu crescimento. Diante disso, quero superficialmente apresentar um ponto de vista sobre a perspectiva política para as eleições de 2014 em nossa cidade e seus possíveis desdobramentos conjunturais para 2016.
Primeiro ponto: a classe trabalhadora (aí, incluo os partidos de esquerda, como o Psol, o PCdoB e PSTU para realizar esse papel tático e estratégico) deve ser também protagonista nesse processo, pois, a luta requer sacrifício e o sacrifício é o partido apresentar o seu candidato para que o povo saiba que há um, dentre os outros, que possui a mesma sintonia, a mesma necessidade, o mesmo sonho e a mesma utopia e luta dos trabalhadores do campo e da cidade.
Segundo ponto: a classe dominante (burguesia local) historicamente vem comandando o processo político, inclusive, fazendo com tranqüilidade, a indicação dos seus candidatos para defenderem os seus interesses dentro das instituições sociais e políticas. Em nossa cidade a movimentação já tem inicio com o processo do PED do PT. Ali se observou uma variada interferência de forças políticas externas em apoio ao candidato vencedor. Na verdade, o PT deixou de ser o agente da transformação e da mudança para se tornar meramente um apêndice nas mãos da burguesia financeira. Isso é terrível para a consolidação de uma democracia reconquistada recentemente a duras penas. O PT se tornou o partido da ordem e não consegue mais subjugar o elitismo brasileiro e local. Constata-se a lógica da inversão de projetos políticos.
Terceiro ponto: a burguesia codoense historicamente tem suas particularidades fendidas. De um lado, há um diapasão burguês que se curva ante à Dinastia Sarney, porém, localmente, esse diapasão perde sua afinação quando os grupelhos se enfrentam e se digladiam na perspectiva de apropriação do aparelho de estado (prefeitura). E, aí, temos um amotinamento burguês circunstancial e oportunista que dura apenas três meses. Nesse ínterim, ocorrem as famosas “descobertas” e “revelações” – os acordos nas caladas da noite – pelos próprios representantes de classe enquanto candidato, e, dessa forma, tenta eliminar seu oponente, usando o discurso da indecência e da amoral daquele, objetivando apenas conquistar os votos dos eleitores menos incautos. A própria burguesia é que cria os fatos e, depois, os condena, como se isso a isentasse de uma culpa inculpável. É um processo vergonhoso e de baixo calão. As farpas atiradas são finíssimas qual lâmina de barbear, o corte é profundo e até demonizador em alguns casos!
Quarto ponto: a burguesia financeira local, nunca como dantes se antecipa ao processo eleitoral de 2014 com a clarividência de se afirmar como a mais importante representação social e política entre os demais grupelhos. É o destaque. Isto tem um ponto nevrálgico: a disseminação ideológica de um futuro candidato que será a grande “esperança”, a “moeda de ouro reluzente” que incendiará a municipalidade e, assim, o velho sonho do capitalista estará sendo consolidado como uma extensão de seu egocentrismo maluco. A capacidade para inaugurar grandes coisas objetivando impressionar as multidões é típica de homens medíocres que desejam tornar-se multifacetado, quando na realidade expressa apenas uma constrangedora incapacidade intelectual de realizar por si mesmo os objetos apresentados. E, assim, é em relação ao processo político. O capital tem o poder de interferir diametralmente na relação social e, principalmente, nos sujeitos que não estejam atentos para suas armadilhas sutis.
O capitalista sonhador tenta cooptar todos os segmentos e lideranças para o seu lado e, com isso, demonstra que é possível sim quebrar a ética e a decência de qualquer homem, porém, ele se engana, pois, em Codó existe um que não se subjuga a esse joguete destruidor.
Impressiona-me o volátil comportamento dos elementos que se proclamam lideres políticos. Quanta ingenuidade – ou, talvez, uma falsa esperteza destes ou daqueles que se submetem a um processo de subordinação e encantamento pela força econômica – aflora em sujeitos que declinam ante a ridícula fantasia política temerária, da incredulidade, da hipocrisia descarada estampada em cada largo sorriso manifesto declarando, assim, o seu fetiche ao capital. Há, de fato, uma incongruência e uma profunda letargia de ordem político-cultural quando o assunto é política e alianças.
A sociedade civil já conhece as formulas arranjada que resulta numa verdadeira ‘farofa rarefeita e mesquinha’, cujo padrão moral inclina-se para a desestruturação do caráter ideológico do processo político; substituindo sua essência a ponto de linchá-la completamente. O ponto central dessa formula consiste na tentativa voraz de ‘garimpar’ essas lideranças e todo tipo de sujeito que esteja associado ou ligado a um determinado grupelho, para ser servido da ‘farofa rarefeita’, isto sociologicamente, chama-se cooptação ou, no melhor da clássica definição corrupção ativa/passiva (porém, tudo isso, ocorre nos bastidores de forma individualizada).
O tom jactancioso, hipócrita e famigerado do discurso que se apresenta para a sociedade codoense como um bem maior não consegue penetrar nos setores de menor renda – isto é, a classe trabalhadora – e dispor de influência pessoal e, nessa articulação entram em cena a força econômica para impor seu desejo e seu intento.
Mas algo extraordinário ocorre: as “famosas articulações por cima”; onde os representantes de legendas partidárias (diga-se de passagem, de aluguel) estabelecem acordos com o grande capitalista em nome de um coletivo. Este método não é o mais democrático e correto para definir os acordos. Antes de qualquer coisa é indispensável que haja uma discussão interna com a base (os filiados) para definir conscientemente qual caminho seguir. Entretanto, tal cultura e tal prática não existem no campo da direita; aliás, o mote é construir alianças sob um vasto mistério que gera especulações pejorativas e negativas tanto para o partido quanto para o dirigente.
E nesse sentido, o discurso da corrupção ganha força e torna-se corriqueira, pois, tudo é comprável e possível no campo político! Dessa idéia suja, não compartilho e não compactuo! Nem todo homem possui um preço justo e nem todo homem se submete a um processo degradante e vil como este! Repito: nem todos! No entanto, há um discurso que penetra fundo no âmago dos dirigentes partidários para justificar tal insanidade: “na política, a coisa funciona dessa forma e pronto”; “a coisa funciona assim mesmo, não tem jeito!” e etc., é preciso que haja uma contraposição considerando a perspectiva do ‘culto político’ num patamar diferenciado, de que é possível sim reformular tal cultura e tal prática e, para isso, a sociedade deve fazer sua parte reformulando sua ideologia, negando-se a alimentar a centenária prática do “é dando que se recebe”, no mote: “é com compromisso que se promove cidadania e desenvolvimento pleno”.
Replico: Codó precisa mergulhar em um rio de águas profundas, ‘caudalosas’, e transparentes; para quando submergir/emergir esteja completamente limpa. Dito de outro modo: o povo codoense necessita se preparar para promover uma grande mudança no campo político, elegendo um líder nato, independente, autônomo, corajoso, democrático e sério para governar o município.
2016 pode ser o momento significativo para o povo romper com o ciclo dominante burguês e pôr em prática essa nova realidade. Ruptura e descontinuidade são os fundamentos políticos da nova fase social a ser desenvolvida em nossa cidade. Não é mais interessante que a sociedade civil viva à margem do processo político, discutindo o seu futuro político em torno de nomes dos de sempre e seus descendentes, urge, a adoção de uma postura ousada e diferente.
A DIVISÃO DA FAROFA RAREFEITA
Quando pensamos que a modernidade trás consigo a possibilidade de mudança, renovação, transformação e, acima de tudo, respeito e equilíbrio entre os entes sociais, militantes políticos e representantes partidários, de repente, nos deparamos com situações extremamente horripilantes e que ganham notoriedade por sua imponência degenerativa: a perda de identidade social. E, uma vez mais, nossa Codó nos surpreende com atos que nos indigna por sua natureza estúpida e malévola.
A impressionante e acachapante força lírica daqueles que não se perdem na caminhada e nem se submetem ao um rigoroso processo predatório marca sua história. Estes são raros. Contudo, a maioria não se contenta e não resistem à tentação da força econômica e, rapidamente, entregam-se ao possuidor de capital. Neste sentido, é bom ressaltar que nem sempre todos são contemplados com a mísera divisão da ‘farofa rarefeita’
One Response
“A política é a arte de engolir sapos”…(agora um grifo meu)…”nem que tenhamos que vomitá-los depois”.