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Como frisei no final do artigo anterior que ainda tinha algumas questões a serem analisadas e expostamente colocadas oportunamente sobre este assunto, dado a vasta e alta complexidade da matéria, volto a discorrer sobre tal tema abordando de uma forma genérica, alguns aspectos do comportamento humano.

Carlos Magno da Veiga Gonçalves
Carlos Magno da Veiga Gonçalves

Continuando com o tópico “valores morais”, temos que pensar que somos todos, presas de um idealismo persistente: tendemos a achar que os humanos, por natureza, são bons e fazem sempre as melhores escolhas, a menos que essa generosidade inata sofra a ação perversa da sociedade. Os estudiosos dizem – menciono sempre eles, pois são a nata do pensamento comportamental – que somos originalmente amorais como qualquer bicho. Educamo-nos, aprendendo o valor civilizador do “não”, da repressão e do limite. A sociedade é que nos arruma.

Esses valores são construções sociais, sim. Podemos decidir segui-los ou não. E há quem decida não seguir. É simples assim. O crime não é uma patologia individual ou social (não considero aqui os doidos clínicos). Trata-se de uma escolha, como qualquer outra, felizmente minoritária. Alguém diria que aquele que quebra a lâmpada no rosto do outro não sabia que aquele é um comportamento inaceitável? Ora, ele só fez o que fez porque sabe ser inaceitável, entenderam? ele escolheu praticar o crime.

A escritora e estudiosa do assunto Paula Inez Cunha Gomide, com o auxilio de professores e pesquisadores da área da Análise do Comportamento, em seu livro “Comportamento Moral – Uma Proposta para o Desenvolvimento das Virtudes”, nos brinda com a seguinte assertiva: “O século XXI revela de maneira transparente as desigualdades evolutivas da espécie humana. Se por um lado o desenvolvimento científico é motivo de orgulho da civilização moderna, por outro, a ausência de princípios morais que norteiem o comportamento humano sugere que o  futuro  da  espécie  está  seriamente comprometido. O ensinamento do comportamento moral, infelizmente, não tem sido prioritário na educação infantil moderna. A maioria dos pais, diante do desafio imposto pela competitividade do mercado de trabalho, orienta seus filhos pautados em condutas que privilegiam bons resultados, independentemente dos princípios éticos e morais a eles ligados. Na verdade, a educação moderna tem demonstrado que os princípios morais podem, inclusive, estar em desacordo com os objetivos de sucesso almejados pela geração atual. Este abandono dos princípios morais na educação familiar está no cerne dos descaminhos e desvios que a humanidade tem enfrentado.”

O leitor provavelmente já ouviu (ou falou) afirmativas como “Eu tenho meus valores”; “Isso não seria moralmente correto” e “Ele não tem nenhum caráter”. Dentre as explicações leigas e/ou tradicionais, os valores, o caráter, a ética e a moral são algo que as pessoas têm (ou não têm) dentro de si e justificam aquilo que elas fazem ou evitam fazer. Contudo, as pessoas não nascem com valores, nem mesmo com ou sem caráter. Essas palavras designam um conjunto de comportamentos que, como qualquer outro, é aprendido ao longo da vida de cada indivíduo.

Em nossa sociedade, constantemente atribuímos valores às coisas e às pessoas.

Podemos dizer que um brinquedo é “bom” porque é resistente, porque é divertido, ou por ser educativo. Da mesma maneira, atribuímos valores às pessoas: uma criança é gentil, educada, alegre, engraçada, e inteligente. Em nossa sociedade, constantemente atribuímos valores às coisas e às pessoas. Podemos dizer que um brinquedo é bom assim por diante. A diferença é que os valores das pessoas são deduzidos a partir daquilo que elas fazem e das consequências do que fazem, enquanto o valor das coisas em geral tem a ver com a sua qualidade ou função.

Desse modo, atribuir valores aos outros ou a si próprio implica fazer uma avaliação quanto ao impacto de seus comportamentos sobre o ambiente social. Alguns valores são denominados “valores morais”, como o altruísmo, a generosidade, a humildade, o perdão e a justiça. Aliás, estes valores serão objeto de futura apreciação, como o foi “generosidade”.

Fazendo um parêntese, não custa lembrar, mencionei a bem pouco tempo (sobre a generosidade), que nos ensinamentos do Dalai Lama como nos textos citados da Bíblia, a generosidade nos faz bem, tanto para o corpo como para a alma. Como não existe nada mais precioso que o tempo, também não existe maior generosidade que o perdermos ajudando aos outros.

Voltando, menciono a pesquisadora PAULA GOMIDE, que em seu livro, diz ainda: “A ética e a moral têm sido objetos de reflexão de vários ramos das ciências humanas, da religião e da filosofia, desde os mais remotos tempos. A contribuição da filosofia tem sido profícua, tanto por parte de filósofos orientais como ocidentais. A doutrina confucionista (551 a 479 a.C.) visou introduzir princípios morais para o exercício da política, incentivando o respeito à família e à sociedade. O filósofo chinês elaborou um código de condutas e afirmou que somente homens que possuíssem qualidades morais e éticas, alcançadas através de uma rígida educação, poderiam exercer o poder. Para ele, o cerne da corrupção e da degradação humana estava na falta de educação.”

Dentre os grandes pensadores da humanidade temos Aristóteles, que dedicou grande parte de sua vida a escrever sobre o comportamento humano nas diversas áreas.  Como filósofo dedicou toda sua vida a analisar os fenômenos da natureza e do homem. Um importante capítulo de seus trabalhos foi dedicado ao estudo da ética, a qual estava intimamente vinculada à política. Para ele, “a moralidade consiste em ações que eram realizadas não necessariamente porque os homens as considerassem corretas, mas porque estas ações eram capazes de aproximar o indivíduo do ‘bem para o homem”. Em sua opinião, “o bem para o homem deveria apresentar duas características: ser escolhido por si próprio, nunca como um meio de se atingir outra coisa e ser auto-suficiente, ou seja, algo que por si próprio tornasse a vida digna de ser escolhida. O bem-estar deveria ser uma atividade e não uma mera potencialidade, estar de acordo com as virtudes e, ainda, manifestar-se em toda a vida e não apenas em pequenos períodos.”

Acho primordial, neste artigo, continuar mencionando este grande pensador, Aristóteles, que faz uma análise profunda do comportamento humano, quando diz: “… que existiam dois tipos de virtudes: a de caráter e a do intelecto. Afirmava que o homem nasce com a capacidade para adquirir a virtude, mas que esta deve ser desenvolvida pela prática, ou seja, nos tornamos bons praticando atos bons.” Aristóteles dizia ainda que “para sermos moralmente virtuosos é preciso possuir, em nós mesmos, a sabedoria prática ou seguirmos o modelo de alguém que a possua. As virtudes de caráter – para Aristóteles – estavam ligadas aos sentimentos e às ações, eram elas: coragem, temperança, magnanimidade, justiça (a esta virtude Aristóteles dedica um livro separado, distinguindo dois tipos de justiça, aquilo que está conforme a lei e o que é distinto e imparcial) e a virtude intelectual ligada à sabedoria.”

Antes de encerrar, quero mencionar, e acho necessário, um dos grandes filósofos ocidentais, Immanuel Kant (1724-1804), alemão, desenvolveu um tratado de filosofia moral em três obras: “Fundamentação da Metafísica dos Costumes(1785)”, “Crítica da Razão Prática(1788)” e “Metafísica dos Costumes (1798)”. Em uma delas, com uma lucidez impressionante, defendia a moral como uma obrigação única e geral e defendia, também, que o exercício da moralidade deveria ser uma obrigação incondicional ou um imperativo categórico. Dizia ensinando-nos: “… age de tal modo que a máxima de tua ação se possa tornar um princípio de uma legislação universal”. Entendendo: pratica bons atos que servirão de exemplo para a humanidade. Afirmava mais, que o dever deveria ser cumprido incondicionalmente, mesmo que esta ação lhe custasse e não lhe desse prazer. A moral, para Kant, era totalmente racional e opunha-se à natureza instintiva humana. Dizia ainda: “é preciso submeter a vontade humana à lei do dever”.

Como aludi no inicio, este assunto (comportamento humano) é vasto pois abrange todos os aspectos da natureza humana desaguando sempre nos valores morais. Devido o grande leque de nuances e muito do que se tem escrito penso que seria interessante, para não se tornar enfadonho, (o assunto) fosse fracionado em vários artigos até mesmo para que o leitor assimilasse com mais parcimônia (claro, para os que apreciam e com a complacência do titular do blog).

Após haver concluído este texto, assisti uma noticia de um acidente com uma carreta que transportava produtos alimentícios, mais precisamente sorvete, que tombou numa rodovia. Imediatamente apareceu uma horda de pessoas irracionais que iniciaram um saque dos produtos que nem do baú haviam saído. Usaram ferramentas tipo machado para abrirem o depósito onde encontrava-se a mercadoria. Porque agiram assim? Este é um comportamento reprovável.  Para Kant, o homem deveria receber educação, disciplina e instrução. Somente assim o homem poderia tornar-se melhor, produzir a moralidade. Para ele, o homem não é bom, nem mal por natureza; ele torna-se moral quando eleva sua razão até os conceitos do dever e da lei.

 Carlos Magno da Veiga Gonçalves, notário

2 Responses

  1. Com profunda admiração , e orgulho de ter parte de mim o D.N.A, desse grande homem, do qual me espelho e sigo rigorosamente seus ensinamentos sobre caráter, e valores morais. Deixo registrado a concordância de suas sábias palavras. Embora achando que valores morais variam de acordo com a região (país , estado, município) em que se vivi, me arrisco ainda dizerque tipo de sociedade estamos inseridos. Exemplifico: os mais favorecidos (classe social, educação e cultura) tem uma ideia de valores morais, q em muitos vai em contra mão aos valores morais dos menos abastardas….seria uma questão educacional ou cultural? Concordo assim quando é citado que o indivíduo quando nasce é desprovido desse comportamento do qual é adquirido ao longo de sua vida, com suas experiências vividas, porém não concordo com as patológicas formas que hoje existente nas grandes metrópoles, onde a lei é cada um por si. Deixando claro que os valores morais se baseiam no bem estar próprio. Concordo piamente com Aristóteles quando diz que “A moralidade consiste em ações que são realizadas não necessariamente porque os homens às consideram corretas, mas porque estás ações eram capazes de aproximar indivíduo do bem para o homem. O homem nesse caso transformo em particular achismo…cada um no seu quadrado! Como u a forma de respeito mútuo (Dito popular).
    Emmanuel Kart(filósofo Alemão ) muito sábio quando diz. Que a máxima de tua ação se possa tornar um princípio de legislação universal( quando aprovada), e orgulhosamente compartilho do seu mesmo pensamento, Pai. Que o dever deverá ser cumprido incondicionalmente. O certo é que o clichê fazer o bem sem olhar a quem, deveria ser aplicado em todo meio social.independente de região, pais, credo ou raça .
    Excelente raciocínio Carlos Magno.

  2. Tenho observado com cautela o comportamento das pessoas e suas atitudes na vida em sociedade. Políticos fazem alianças historicamente incongruentes em troca de alguns minutos adicionais no horário eleitoral gratuito, independentemente da dissonância ideológica e pragmática futura em caso de êxito no pleito. Profissionais travam um verdadeiro jogo de xadrez em suas companhias prejudicando o colega da mesa ao lado em lances ardilosos engendrados nos corredores e nas pausas para o café, em busca de uma notoriedade que pretensamente lhes venha conferir uma maior remuneração.
    O dinheiro, por exemplo, muda as pessoas com a mesma freqüência com que muda de mãos. Mas, na verdade, ele não muda o homem: apenas o desmascara. Esta é uma das mais importantes constatações já realizadas, pois auxilia-nos a identificar quem nos cerca: se um amigo, um colega ou um adversário. Infelizmente, esta observação, não raro, dá-se tardiamente, quando danos foram causados, frustrações foram contabilizadas, amizades foram combalidas. Mas antes tarde, do que mais tarde. Cada vida são muitos dias, dias após dias. Caminhamos pela vida cruzando com ladrões, fantasmas, gigantes, velhos e moços, mestres e aprendizes. Mas sempre encontrando nós mesmos. Na medida em que os anos passam tenho aprendido a me tornar um pouco pluma: ofereço menos resistência aos sacrifícios que a vida impõe e suporto melhor as dificuldades. Aprendi a descansar em lugares tranqüilos e a deixar para trás as coisas que não preciso carregar, como ressentimentos, mágoas e decepções. Aprendi a valorizar não o olhar, mas a coisa olhada; não o pensar, mas o sentir. Aprendi que as pessoas, via de regra, não estão contra mim, mas a favor delas. Por isso, deixei de nutrir expectativas de qualquer ordem a respeito das pessoas. Atitudes insensatas não mais me surpreendem. Seria desejável que todos agissem com bom senso, vendo as coisas como são e fazendo-as como deveriam ser feitas. Mas no mundo real, o bom senso é a única coisa bem distribuída: todos garantem possuir o suficiente… Somos responsáveis por aquilo que fazemos, o que não fazemos e o que impedimos de fazer. Nós não aprendemos nada com nossa experiência. Nós só aprendemos refletindo sobre nossa experiência. Todos temos nossas fraquezas e necessidades, impostas ou auto-impostas. “Conheço muitos que não puderam quando deviam, porque não quiseram quando podiam”, disse François Rabelais.
    Por tudo isso, é preciso tolerância. É preciso também flexibilidade. Mas é preciso fundamentalmente policiar-se. Num mundo dinâmico, é plausível rever valores, adequar comportamentos, ajustar atitudes. Mantendo-se a integridade.

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