Sou codoense. Já afirmei antes, tenho uma relativa queda pela política. E, como estamos no assunto, reforço meu comentário: “acho a política um mal necessário”. No entanto, a política de Codó é uma das mais provincianas e amadoras que eu conheço. Se a Bacabinha fosse emancipada e estivesse necessitando de um pleito eleitoral hoje, ele não seria tão juvenil tal qual observamos nas eleições codoenses.
Quer um exemplo, nobre leitor? As motocadas. Elas são a principal prova, cabal, do que estou falando: elas asfixiam as importantes ruas e avenidas da cidade impedindo o direito de um cidadão comum, que não tem “nada a ver”, de ir e vir. É como se os candidatos privatizassem um espaço público só para eles. É ridícu-lú-lú (risadas). Além do mais, as motocadas não representam nada. As mesmas pessoas que frequentam uma disponibilizam-se em outras. Isso é fato. Motocada é puro marketing tupiniquim.
Nos programas de televisão a civilidade troca de cadeira com a barbárie. Ofensas são proferidas e nenhuma proposta é expressa. Farpas são trocadas, enfim. Recentemente, um postulante ao voto mencionou sua vontade de derrubar um muro, de propriedade privada, que atrofia o principal espaço de folia da cidade.
Confesso: também tenho vontade de destruir o tal muro. Mas será que a minha vontade, mais a vontade do candidato e a vontade geral justificam um ato tresloucado e insano como esse? Não, claro que não. Um homem que pretende conduzir a administração de uma cidade ou nação jamais deve dar voz aos vícios insaciáveis do povo. O direito deve ser encontrado na constituição, não nas ruas. Não é no povo que encontramos as leis.
Pôncio Pilatos foi o real responsável pelo processo que condenou Jesus Cristo à morte na cruz, apesar de não ter nele encontrado nenhuma culpa. Pilatos, como autoridade romana na época, tinha nas mãos a chave para a condenação de cristo e, também, sua absolvição. Porém, preferiu ouvir as massas; “quereis, pois, que vos solte o Rei dos Judeus?”. O fim todos nós sabemos, deu no que deu.
O pensador francês Alexis de Tocqueville (1805-1859) nos alertou sobre as mazelas da democracia, onde ela pode abrir as portas para atuação da ditadura da maioria. Ou seja, a democracia também pode se tornar uma vilã, pois nela prevalece o maior número de opiniões suplantando a menor quantidade delas sobre um determinado assunto.
A vontade do povo deve ficar abaixo das leis constitucionais. Reitero: fazer o que as massas querem, esbravejantes, com espumas escorrendo pelo canto da boca, é atitude indigna de um postulante ao voto. O direito, nobre candidato, só pode ser encontrado nas leis. Só nas leis.
(KLEBER SANTOS)