Eu gosto da política. Considero um mal necessário. Quando saiu às ruas, chama minha atenção o intenso fluxo de pessoas nas passeatas, carreatas e motocadas políticas. Observo nessas ocasiões um verdadeiro formigueiro humano. Impressiono-me com a quantidade de pessoas ligadas, direta ou indiretamente, em manifestações como essa. Apesar de não parecer, a vaidade com a qual o político se expõe faz inveja a qualquer Estadista tirano do séc. XX.
Encenações, pantomimas e beijos. Afagos dos mais carinhosos. Crianças melequentas entrelaçadas aos políticos. Bêbados, pidões e babões. A política sempre conseguiu condicionar um sincretismo humano nunca visto em nenhum outro ambiente.
Há algum tempo, em meus textos, deixei bem claro meu desprovimento de fé nas coisas, no ser humano, sobretudo na política, embora gostando dela. Deificar um político é acreditar na ideia de dias melhores, de soluções para vida. Porém, a vida, como diz Shakespeare (1564-1616) em Macbeth: “A vida nada mais é que uma sombra que anda. Pobre ator que se pavoneia e se agita durante sua hora no palco, e depois não é mais ouvido. É uma estória contada por um idiota, cheia de som e fúria, que nada significa. Breve chama de uma vela”. É por isso que Shakespeare sempre será eterno.
Acabo de ler o maravilhoso livro do filósofo espanhol José Ortega y Gasset (1883-1955), “Rebelião das Massas”. A obra foi escrita em 1926, mas ela continua atual. No livro Ortega apresenta, de uma forma cirúrgica, a terrível ideia do povo em ter fé e “esperanças” no Estado, na máquina pública. Quando eu vejo uma multidão de acólitos seguindo seus respectivos candidatos, vejo, ali, um temperamento de rebanho. O ser humano não pode achar que o Estado ou a máquina pública seja a solução de todos os seus problemas. Não podemos divinizar os políticos, pois eles são os instrumentos menos indicados para tratar a problemática da vida.
Além do mais, a máquina pública só é benigna quando conduzida por um ser egrégio, que carrega a tradição e sabe da sua missão e dos limites do ente Estatal. O homem nobre é o oposto do demagogo que vai à praça pública pregar facilidades para se tornar governante e que empresta sua oratória para dar voz aos vícios insaciáveis das massas.
O discurso político de todo postulante aos votos parte do suposto da estupidez factual da maioria dos eleitores, que não compreende o Estado e nem os movimentos políticos, mas que julga ser seu “direito” ter todas as benesses que as classes políticas lhes prometem em troca do seu voto. A consequência disso é uma péssima administração pública, e o político fazendo do órgão público seu provedor maior.
No entanto, Quanto menos o Estado intervir em nossa vida melhor. É uma crença estúpida essa estabelecida em achar que o Estado tem a obrigação de prover ao individuo suas necessidades mais básicas. Todo ser humano saudável é capaz de prover-se por si só. O contrário disso chama-se preguiça. Nossas instituições democráticas serão lugares harmoniosamente habitáveis se nossos governantes e governados nunca esquecerem disso.
E para os candidatos deixo aqui uma máxima. Quando o imperador Marco Aurélio, cruzava as ruas de Roma, em meio às massas, ovacionado pelas multidões, sempre existia um escravo a seu lado que lhe segredava a seguinte frase: “És apenas um ser mortal”. Dessa forma, não há vaidade que resista.
(KLEBER SANTOS)